sábado, 28 de maio de 2011

O Filme dos Espíritos (Trailer) 2011 - Baseado em O Livro dos Espíritos, escrito por Allan Kardec em 1857









O filme conta a história de Bruno Alves que, por volta dos 40 anos, perde a mulher e se vê completamente abalado. A perda do emprego se soma à sua profunda tristeza e o suicídio lhe parece a única saída.

Curiosidades
Livremente baseado em O Livro dos Espíritos, escrito por Allan Kardec em 1857.

Informações Técnicas
Título no Brasil: O Filme dos Espíritos
Título Original: O Filme dos Espíritos
País de Origem: Brasil
Gênero: Drama
Ano de Lançamento: 2011
Estréia no Brasil: 07/10/2011
Site Oficial:
Estúdio/Distrib.: Paris Filmes
Direção: André Marouço / Michel Dubret

Elenco
Nelson Xavier
Ênio Gonçalves
Etty Fraser
Ana Rosa
Sandra Corveloni
Reinaldo Rodrigues

Fonte: Canal de Brunodefcom no YouTube: http://www.youtube.com/user/brunodefcom

Pintura Mediúnica (Maria Gertrudes)







Maria Gertrudes Coelho nasceu em Ituiutaba, Minas Gerais, bacharelou-se em Direito em 1973 pela UFU, foi funcionária do Banco do Brasil, até aposentar-se em 1994. Desde a mais tenra infância vivenciou os ensinamentos Espíritas, construiu em Ituiutaba, o Centro Espírita Recanto de Paz, iniciou a Feira de Livro Espírita, anualmente, montou em praça pública a Banca do Livro Espírita Allan Kardec, fundou a Biblioteca Espírita Chico Xavier. Começou a psicografar em 1981, orientada por seu guia espiritual Alfredo Júlio Fernandes e no final do ano de 1995 eclodiu a mediunidade pictográfica, através do célebre pintor inglês Joseph Turner. Da pintura mediúnica nasceu a Fundação Espírita Jerônimo Mendonça, uma escola para jovens carentes na faixa etária de 06 a 17 anos.Hoje, a médium percorre o Brasil e Exterior divulgando a Doutrina Espírita através de seus livros e da Pintura mediúnica. A renda de seus quadros mediúnicos e livros é revertida em prol da Escola, cujo lema define seu objetivo: Eduquemos o jovem através da Arte com Jesus e transformaremos as prisões em museus. . Sobre esta Escola, disse-lhe Chico Xavier: Precisamos ter uma base de ensinamentos que nos ajude a pensar que o criador está entre nós.”

Saiba mais em:
Fundação Espírita Jerônimo Mendonça: http://www.fejm.com.br/gertrudes.htm

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Cinco itens para elevar nosso pensamento (Joanna de Ângelis)





Joanna de Ângelis recomenda cinco itens para elevar nosso pensamento, meditando sobre eles:

1 - a vida é bela;
2 - eu nasci para amar;
3 - eu vivo para , servir;
4 - o mal que me fazem não me faz mal, o mal que me faz mal é o mal que eu faço, porque me torna um ser mau;
5 - há um sol brilhando dentro de mim.

Divaldo Franco nos explica cada um desses tópicos:

1 - A vida é bela
Se nós observamos a paisagem, ela é encantadora. Nas muitas vezes que estamos com os óculos da melancolia, vêmo-la de uma forma triste e depressiva, mas não é a paisagem; quando estamos alegres, um poço de lama pútrida apresenta-se-nos como uma oportunidade de transformar o jardim; quando estamos tristes, a fonte cantante parece um olho que verte lágrimas de dor. A paisagem é a mesma; nossa disposição de fitá-la é que torna essa paisagem luminescente ou sombria. Então, quando colocamos o santo óleo do amor no coração e as lentes transparentes da alegria, a vida é sempre bela.


2 - Eu nasci para amar
Todos nós nascemos para amar. Ocorre que em nosso trânsito evolutivo nosso egotismo leva-nos a querer ser amados e negociamos o amor. O amor para nós só tem sentido se houver uma resposta, e então isso não é amor. O amor é como perfume, ele exterioriza. É claro que em nosso sentido de humanidade gostaríamos de receber a resposta, mas não é tão importante, porque as pessoas que recebem respostas afetivas nem sempre são plenas, tornam-se caprichosas e cada vez querem mais. Então, quando do nós amamos, sempre a vida responde, porque o ato de amar é uma forma de ser feliz. A vida é uma canção de serviço: todo aquele que não vive para servir ainda não aprendeu a viver.


3 - Eu vivo para servir

O Rotary tem um pensamento extraordinário: aquele que não vive para servir, não serve para viver. A mim, apesar da beleza, me parece um tanto pessimista; eu o substituiria: aquele que não vive para servir, não merece viver. Então, eu diria, ainda, que não aprendeu a viver, porque a gente aprende a viver quando se torna útil, quando a gente sabe que a vida tem um sentido, que a vida tem um significado.


4 - O mal que me fazem não me faz mal, o mal que me faz mal é o mal que eu faço, porque me torna um ser mau
Invariavelmente nós valorizamos mais o mal do que o bem. Há uma bela história de psicologia: Um professor foi dar uma aula de avaliação comportamental e chegando na classe estendeu sobre o quadro de giz um imenso lençol alvo; depois tomou de um pincel e na ponta do lençol colocou pequena mancha, e perguntou aos alunos: que vêem? Todos, em uníssono: uma mancha! Ninguém viu o lençol. A mancha era mil vezes menor que o lençol; é a tendência para ver desenfocada a realidade. Ninguém sequer diz: vejo o lençol com uma mancha. É nosso atavismo ver o lado negativo. Por quê? Por causa dos nossos instintos primários.

Os três instintos básicos da vida são: alimentação, repouso e nutrição; por causa deles os animais matam; por causa deles nós também matamos e por esse instinto de ver sempre a supremacia sobre o mais fraco nós adquirimos uma tendência negativista, porque armazenamos mais idéias negativas que positivas e graças a isso nós nos perdemos ante a realidade. Na hora que aprendermos a servir, nós superaremos todos esses condicionamentos, e se não recebermos respostas é porque nosso serviço não foi tão profundo que mudasse a estrutura daquele ou do lugar a que estaremos servindo.

Em realidade, quando alguém não gosta da gente, o problema não é nosso, é da pessoa. Se alguém fala mal de nós, há de ter um fator de desequilíbrio de quem fala: há inveja, há competição, há insensatez, o desejo de superar, ou simplesmente uma alma atormentada. Então, se alguém não gosta de nós, o problema é da pessoa.

Mas quando nós não gostamos de alguém o problema é nosso. Porque nós é que não estamos bem, nós é que estamos doentes, daí o mal que me fazem não me faz mal, porque a vibração negativa só encontra apoio quando há consonância; se eu me mantiver acima da faixa vibratória daquele que não gosta de mim, não há um plugue para a fixação da tomada do meu sentimento, então, seu mal não me atinge; mas se eu reagir e descer ao mesmo nível, então aí o mal me faz mal. Agora, o mal pior não é aquele que nos fazem, é o que nós fazemos, porque nos torna pessoas más; daí, nós devemos encetar todo esforço para nunca retribuir o mal com o mal.

Quando alguém nos persiga, calunie e até minta, acusando-nos por coisas que jamais passaram por nossa mente, porque as mentes são muito férteis e há um ângulo da psicologia, no capítulo das patologias, a mentira, a pessoa sempre mente e quando percebe que seu objetivo não logrou, a pessoa cria coisas que não existem, mas na mente dele acontecem; é o transtorno psicológico: ele vê o que existe dentro de si; nós não devemos reagir, devemos agir, deixar que o tempo responda, porque a pessoa também vai amadurecer, vai viver, vai aprender com a vida e merece amor, porque amar a quem nos ama é muito fácil, amar a quem nos hostiliza ou não simpatiza conosco, esse é o grande desafio.


5 - Há um sol brilhando dentro de mim
Há um sol que brilha dentro de nós: é a presença do amor, porque normalmente o sol brilha fora e nós, que estamos no meio, projetamos sombra; quando instalamos o sol do amor dentro de nós, na crença, na beleza, nós nos tomamos uma lâmpada que irradia em todas as direções.


Conclusão:


Então, a vida é bela, como diz Joanna de Ângelis; eu nasci para amar, e a gente, quando nasce para amar, tem sempre que fazer alguma coisa para que o mundo se torne digno de ser amado. Eu nasci para servir; então, estamos aqui com um objetivo superior; o mal que me fazem não me faz mal, porque toda vez que alguém pensa em mim negativamente, isso deve constituir um estímulo para que eu avance na direção do bem; e o sol que brilha dentro de nós é a presença do amor.

(Fonte: Revista Visão Espírita, nº 17 - coluna Diálogo Franco)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Não procures repouso em momentos vazios (Emmanuel)







"Não procures repouso em momentos vazios, inércia simplesmente é começo de angústia."

(Emmanuel)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Realmente (Chico Xavier / André Luiz)




A tempestade espanta. Entretanto, acentuar-nos-á a resistência, se soubermos recebê-la.

*

A dor dilacera. Mas aperfeiçoar-nos-á o coração, se buscarmos aproveitá-la.

*

A incompreensão dói. Contudo, oferece-nos excelente oportunidade de compreender.

*

A luta perturba. Todavia, será portadora de incalculáveis benefícios, se lhe aceitarmos o concurso.
*

O desespero destrói. Diante dele, porém, encontramos ensejo de cultivar a serenidade.

*

O ódio enegrece. No entanto, descortina bendito horizonte à revelação do amor.

*

A aflição esmaga. Abre-nos, todavia, as portas da ação consoladora.

*

O choque assombra. Nele, contudo, encontraremos abençoada renovação.

*

A prova tortura. Sem ela, entretanto, é impossível a aprendizagem.

*

O obstáculo aborrece. Temos nele, porém, legítimo produtor de elevação e capacidade.


(De “Agenda Cristã”, de Francisco Cândido Xavier, pelo espírito André Luiz)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Gratidão



“Pela amizade que você me vota, por meus defeitos que você nem nota...
Por meus valores que você aumenta, por minha fé que você alimenta...
Por esta paz que nós nos transmitimos, por este pão de amor que repartimos...
Pelo silêncio que diz quase tudo, por este olhar que me reprova mudo...
Pela pureza dos seus sentimentos, pela presença em todos os momentos...
Por ser presente, mesmo quando ausente, por ser feliz quando me vê contente...
Por este olhar que diz: “Amigo, vá em frente!”
Por ficar triste, quando estou tristonho, por rir comigo quando estou risonho...
Por repreender-me, quando estou errado, por meu segredo, sempre bem guardado...
Por seu segredo, que só eu conheço, por achar que apenas eu mereço...
Por me apontar para DEUS a todo instante, por esse amor fraterno tão constante...
Por tudo isso e muito mais eu digo: DEUS TE ABENÇOE, MEU QUERIDO AMIGO!”

(Autor desconhecido)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mensagem de André Luiz (Introdução do livro "Nosso Lar" de Chico Xavier)



"A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões.

O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso.

Copiando-lhe a expressão, a alma percorre igualmente caminhos variados e etapas diversas, também recebe afluentes de conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se em qualidade, antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria.

Cerrar os olhos carnais constitui operação demasiadamente simples.

Permutar a roupagem física não decide o problema fundamental da iluminação, como a troca de vestidos nada tem que ver com as soluções profundas do destino e do ser.

Oh! caminhos das almas, misteriosos caminhos do coração!

É mister percorrer-vos, antes de tentar a suprema equação da Vida Eterna! É indispensável viver o vosso drama, conhecer-vos detalhe a detalhe, no longo processo do aperfeiçoamento espiritual!...

Seria extremamente infantil a crença de que o simples "baixar do pano" resolvesse transcendentes questões do Infinito.

Uma existência é um ato.
Um corpo - uma veste.
Um século - um dia.
Um serviço - uma experiência.
Um triunfo - uma aquisição.
Uma morte - um sopro renovador.

Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda?

E o letrado em filosofia religiosa fala de deliberações finais e posições definitivas!

Ai! por toda parte, os cultos em doutrina e os analfabetos do espírito!

É preciso muito esforço do homem para ingressar na academia do Evangelho do Cristo, ingresso que se verifica, quase sempre, de estranha maneira - ele só, na companhia do Mestre, efetuando o curso difícil, recebendo lições sem cátedras visíveis e ouvindo vastas dissertações sem palavras articuladas.

Muito longa, portanto, nossa jornada laboriosa.

Nosso esforço pobre quer traduzir apenas uma idéia dessa verdade fundamental.

Grato, pois, meus amigos!

Manifestamo-nos, junto vós outros, no anonimato que obedece à caridade fraternal. A existência humana apresenta grande maioria de vasos frágeis, que não podem conter ainda toda a verdade. Aliás, não nos interessaria, agora, senão a experiência profunda, com os seus valores coletivos. Não atormentaremos alguém com a idéia da eternidade. Que os vasos se fortaleçam, em primeiro lugar. Forneceremos, somente, algumas ligeiras notícias ao espírito sequioso dos nossos irmãos na senda de realização espiritual, e que compreendem conosco que "o espírito sopra onde quer".

E, agora, amigos, que meus agradecimentos se calem no papel, recolhendo-se ao grande silêncio da simpatia e da gratidão. Atração e reconhecimento, amor e júbilo moram na alma. Crede que guardarei semelhantes valores comigo, a vosso respeito, no santuário do coração.

Que o Senhor nos abençoe."


André Luiz (Espírito) por Chico Xavier

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Espiritualidade e Consciência (Wagner Borges)



Espiritualidade é um estado de consciência; não é doutrina, não!
É o que se leva dentro do coração.
É o discernimento em ação!
É o amor em profusão.
É a luz nas idéias e equilíbrio na senda.
É o valor consciencial da alegria na jornada.
É a valorização da vida e de todos os aprendizados.
É mais do que só viver; é sentir a vida que pulsa em todas as coisas.
É respeitar a si mesmo, para respeitar o próximo e a natureza.
É ter a plena noção de que nada acaba na morte do corpo, pois a consciência segue além, algures, na eternidade...
É saber disso – com certeza -, e não apenas crer nisso.
É viver isso – com clareza -, sem fraquejar na senda.
É ser um presente, para si mesmo, para os outros e para a própria vida.
Espiritualidade é brilho nos olhos e luz nas mãos.
E isso não depende dessa ou daquela doutrina; depende apenas do próprio despertar espiritual; depende do discernimento consciencial se unir aos sentimentos legais, no equilíbrio das próprias energias, nos atos da vida.
Ah, espiritualidade é qualidade perene; não se perde nem se ganha; apenas é!
É valor interno, que descerra o olhar para o infinito... para além dos sentidos convencionais. É janela espiritual que se abre, dentro de si mesmo, para ver a luz que está em tudo!
Espiritualidade é essa maravilha: o encontro consigo mesmo, em paz.
Espiritualidade é ser feliz, mesmo que ninguém entenda por quê.
É quando você se alegra, só pelo fato de estar vivo!
É quando o seu chacra* do coração se abre igual a uma rosa, e você se sente possuído por um amor que não é condicionado a coisa alguma, mas que ama tudo.
É quando você nem sabe explicar porque ama; só sabe que ama.
Espiritualidade não depende de estar na Terra ou no Espaço; de estar solteiro ou casado; de pertencer a esse ou aquele lugar; ou de crer nisso ou naquilo.
É valor de consciência, alcançado por esforço próprio e faz o viver se tornar sadio.
Espiritualidade é apenas isso: SER FELIZ!
Ou, como ensinavam os sábios celtas de outrora: SER UM PRESENTE!

Wagner Borges

Capítulo II - O Ponto de Vista (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, 1864)



Capítulo II

O Ponto de Vista

5. A idéia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no porvir, fé que acarreta enormes conseqüências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, breve estada num pai ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguirse-lhes um estado mais ditoso. A morte nada mais restará de aterrador; deixa de ser a porta que se abre para o nada e torna-se a que dá para a libertação, pela qual entra o exilado numa mansão de bem-aventurança e de paz. Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às preocupações da vida, resultando-lhe daí uma calma de espírito que tira àquela muito do seu amargor.

Pelo simples fato de duvidar da vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente. Nenhum bem divisando mais precioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos. E não há o que não faça para conseguir os únicos bens que se lhe afiguram reais. A perda do menor deles lhe ocasiona causticante pesar; um engano, uma decepção, uma ambição insatisfeita, uma injustiça de que seja vítima, o orgulho ou a vaidade feridos são outros tantos tormentos, que lhe transformam a existência numa perene angústia, infligindo-se ele, desse modo, a si próprio, verdadeira tortura de todos os instantes. Colocando o ponto de vista, de onde considera a vida corpórea, no lugar mesmo em que ele aí se encontra, vastas proporções assume tudo o que o rodeia. O mal que o atinja, como o bem que toque aos outros, grande importância adquire aos seus olhos. Aquele que se acha no interior de uma cidade, tudo lhe parece grande: assim os homens que ocupem as altas posições, como os monumentos. Suba ele, porém, a uma montanha, e logo bem pequenos lhe parecerão homens e coisas.

É o que sucede ao que encara a vida terrestre do ponto de vista da vida futura; a Humanidade, tanto quanto as estrelas do firmamento, perde-se na imensidade. Percebe então que grandes e pequenos estão confundidos, como formigas sobre um montículo de terra; que proletários e potentados são da mesma estatura, e lamenta que essas criaturas efêmeras a tantas canseiras se entreguem para conquistar um lugar que tão pouco as elevará e que por tão pouco tempo conservarão. Daí se segue que a importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura.

6. Se toda a gente pensasse dessa maneira, dir-se-ia, tudo na Terra periclitaria, porquanto ninguém mais se iria ocupar com as coisas terrenas. Não; o homem, instintivamente, procura o seu bem-estar e, embora certo de que só por pouco tempo permanecerá no lugar em que se encontra, cuida de estar aí o melhor ou o menos mal que lhe seja possível. Ninguém há que, dando com um espinho debaixo de sua mão, não a retire, para se não picar. Ora, o desejo do bem-estar força o homem a tudo melhorar, impelido que é pelo instinto do progresso e da conservação, que está nas leis da Natureza. Ele, pois, trabalha por necessidade, por gosto e por dever, obedecendo, desse modo, aos desígnios da Providência que, para tal fim, o pôs na Terra. Simplesmente, aquele que se preocupa com o futuro não liga ao presente mais do que relativa importância e facilmente se consola dos seus insucessos, pensando no destino que o aguarda. Deus, conseguintemente, não condena os gozos terrenos; condena, sim, o abuso desses gozos em detrimento das coisas da alma. Contra tais abusos é que se premunem os que a si próprios aplicam estas palavras de Jesus: Meu reino não é deste mundo.

Aquele que se identifica com a vida futura assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma. Aquele cujos pensamentos se concentram na vida terrestre assemelha-se ao pobre que perde tudo o que possui e se desespera.

7. O Espiritismo dilata o pensamento e lhe rasga horizontes novos. Em vez dessa visão, acanhada e mesquinha, que o concentra na vida atual, que faz do instante que vivemos na Terra único e frágil eixo do porvir eterno, ele, o Espiritismo, mostra que essa vida não passa de um elo no harmonioso e magnífico conjunto da obra do Criador. Mostra a solidariedade que conjuga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos. Faculta assim uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, enquanto a doutrina da criação da alma por ocasião do nascimento de cada corpo torna estranhos uns aos outros todos os seres. Essa solidariedade entre as partes de um mesmo todo explica o que inexplicável se apresenta, desde que se considere apenas um ponto. Esse conjunto, ao tempo do Cristo, os homens não o teriam podido compreender, motivo por que ele reservou para outros tempos o fazê-lo conhecido.


Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, 1864 - Capítulo II - O Ponto de Vista

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Céptico - Espiritismo e Espiritualismo - Segundo Diálogo (Livro: "O que é o espiritismo" Allan Kardec - Cap I)



SEGUNDO DIÁLOGO

O CÉPTICO


V. — Compreendo, cavalheiro, a utilidade do estudo preliminar de que acabais de falar.

Como predisposição pessoal, dir-vos-ei que não sou a favor nem contra o Espiritismo, mas esse assunto me excita o interesse no mais alto grau.

Entre as pessoas de meu conhecimento, há partidários e adversários dele; a seu respeito tenho ouvido argumentos muito contraditórios, e propunha-me submeter-vos algumas das objeções que foram feitas em minha presença e que me parecem de certo valor, para mim ao menos, que vos confesso a minha ignorância a respeito.

A. K. — Terei grande satisfação, meu amigo, em responder às perguntas que me quiserdes dirigir, sempre que forem feitas com sinceridade e sem pensamento oculto; não tenho a pretensão, entretanto, de poder responder a todas.

O Espiritismo é uma ciência que acaba de nascer e da qual resta ainda muito a aprender; seria, pois, grande presunção de minha parte pretender levar de vencida todas as dificuldades; não poderei dizer mais do que sei.

O Espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral; é um campo imenso que não pode ser percorrido em algumas horas.

Compreendeis que me seria materialmente impossível repetir de viva voz e a cada pessoa, em particular, tudo quanto tenho escrito sobre essa matéria, para uso geral.

Em prévia leitura cada qual encontrará, além disso, uma resposta à maior parte das questões que lhe venham à mente; essa leitura tem a dupla vantagem de evitar repetições inúteis e de provar um desejo sincero de instruir-se.

Se, depois dela, ainda existirem dúvidas ou pontos obscuros, o esclarecimento não oferecerá mais dificuldade, porque já se possui um ponto de apoio e não se tem necessidade de perder tempo em rever os princípios mais elementares da Doutrina.

Se o permitirdes, limitar-nos-emos, por ora, a algumas questões genéricas.

V. — Seja; tende a bondade de chamar-me à ordem, sempre que eu dela me afaste.


Espiritismo e Espiritualismo

Pergunto-vos, em primeiro lugar, qual a necessidade da criação de novos termos: espírita e espiritismo, para substituir: espiritualista e espiritualismo, que são da língua vulgar e por todos compreendidos? Já ouvi alguém classificar tais termos de barbarismos.

A. K. — De há muito tem já a palavra espiritualista uma acepção bem determinada; é a Academia que no-la dá:

Espiritualista, aquele ou aquela pessoa cuja doutrina é oposta ao materialismo.

Todas as religiões são necessariamente fundadas sobre o espiritualismo. Aquele que crê que em nós existe outra coisa, além da matéria, é espiritualista, o que não implica a crença nos Espíritos e nas suas manifestações. Como o podereis distinguir daquele que tem esta crença? Ver-vos-eis obrigado a servir-vos de uma perífrase e dizer: É um espiritualista que crê ou não crê nos Espíritos.

Para as novas coisas são necessários termos novos, quando se quer evitar equívocos. Se eu tivesse dado à minha Revista a qualificação de espiritualista, não lhe teria especificado o objeto, porque, sem desmentir-lhe o título, bem poderia nada dizer nela sobre os Espíritos, e até combatê-los.

Já há algum tempo, li num jornal, a propósito de uma obra filosófica, um artigo em que se dizia tê-la o autor escrito do ponto de vista espiritualista; ora, os partidários dos Espíritos ficariam singularmente desapontados se, confiantes nessa indicação, acreditassem encontrar alguma concordância entre o que ela ensina e as idéias por eles admitidas.

Se adotei os termos espírita, espiritismo, é porque eles exprimem, sem equívoco, as idéias relativas aos Espíritos.

Todo espírita é necessariamente espiritualista, mas nem todos os espiritualistas são espíritas.

Ainda que os Espíritos fossem uma quimera, havia utilidade em adotar termos especiais para designar o que a eles se refere; porque as falsas idéias, como as verdadeiras, devem ser expressas por termos próprios.

Além disso, essas palavras não são mais bárbaras que as outras que as ciências, as artes e a indústria diariamente estão criando; com certeza, elas não o são mais do que aquela que Gall imaginou para a sua nomenclatura das faculdades, como: Secretividade, alimentividade, afecionividade, etc.

Há pessoas que, por espírito de contradição, criticam tudo que não provém delas, tomando ares de oposicionistas; aqueles que assim provocam tão pequeninas chicanas, só revelam o acanhamento de suas idéias. Agarrar-se a tais bagatelas é demonstrar falta de boas razões.

As palavras espiritualismo e espiritualista são inglesas, e têm sido empregadas nos Estados Unidos desde que começaram a surgir as manifestações dos Espíritos; no começo e por algum tempo, também delas se serviram na França; logo, porém, que apareceram os termos espírita, espiritismo, compreendeu-se a sua utilidade, e foram imediatamente aceitos pelo público.

Hoje, seu uso está tão generalizado que os próprios adversários, aqueles que no princípio os classificavam de barbarismos, não empregam outros. Os sermões e as pastorais que fulminam o Espiritismo e os espíritas viriam produzir enorme confusão, se fossem dirigidos ao espiritualismo e aos espiritualistas.

Bárbaros ou não, esses termos estão hoje incluídos na língua usual e em todas as línguas da Europa; são os únicos empregados em todas as publicações, favoráveis ou contrárias, feitas em todos os países. Eles ocupam o vértice da coluna da nomenclatura da nova ciência; para exprimir os fenômenos especiais dessa ciência, tínhamos necessidade de termos especiais; o Espiritismo hoje possui a sua nomenclatura, tal como a Química.

As palavras espiritualismo e espiritualista, aplicadas às manifestações dos Espíritos, não são hoje mais empregadas senão pelos adeptos da escola americana.


Fonte: Livro "O que é o espiritismo" Allan Kardec - Cap I - SEGUNDO DIÁLOGO - O CÉPTICO

Há um tempo (Fernando Pessoa)


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa

domingo, 15 de maio de 2011

Frases do Ministro Genésio (Nosso Lar)


"Orgulho e egoísmo são as grandes chagas da humanidade."

"Toda forma de servir é uma benção."

"A vontade, persistência e merecimento andam de mãos dadas."

"Quando o servidor está pronto o serviço aparece."


(Ministro Genésio - Nosso Lar)

sábado, 14 de maio de 2011

A Preleção da Ministra Veneranda


"Como sempre, não posso aproveitar a nossa reunião para discursos de longa tiragem verbal, mas aqui estou para conversar com vocês, relacionando algumas observações sobre o pensamento.

Encontram-se, entre nós, no momento, algumas centenas de ouvintes que se surpreendem com a nossa esfera cheia de formas análogas às do planeta.

Não haviam aprendido que o pensamento é a linguagem universal?

Não foram informados que a criação mental é quase tudo em nossa vida?

São numerosos os irmãos que formulam semelhantes perguntas. Todavia, encontraram aqui a habitação, o utensílio e a linguagem terrestres.

Esta realidade, contudo, não deve causar surpresa a ninguém. Não podemos esquecer que temos vivido, até agora (referindo-nos a existência humana), em velhos círculos de antagonismo vibratório.

O pensamento é a base das relações espirituais dos seres entre si, mas olvidemos que somos milhões de almas dentro do Universo, algo insubmissa ainda às leis universais.

Não somos comparáveis aos irmãos mais velhos e mais sábios, próximos do Divino, mas milhões de entidades a viverem nos caprichosos “mundos inferiores” do nosso “eu”.

Os grandes instrutores da humanidade carnal ensinam princípios divinos, expõem verdades eternas e profundas, nos círculos do globo. Em geral, porém, nas atividades terrenas, recebemos notícias dessas leis sem nos submetermos a elas, e tomamos conhecimento dessas verdades sem lhes consagrarmos nossas vidas.

Será incrível que, somente por admitir o poder do pensamento, ficasse o homem liberto de toda a condição inferior? Impossível!

Uma existência secular, na carne terrestre, representa período demasiadamente curto para aspirarmos à posição de cooperadores essencialmente divinos. Informamo-nos a respeito da força mental no aprendizado mundano, mas esquecemos que toda a nossa energia nesse particular, tem sido empregada por nós, em milênios sucessivos, nas criações mentais destrutivas ou prejudiciais a nós mesmos.

Somos admitidos aos cursos de espiritualização nas diversas escolas religiosas do mundo, mas com freqüência agimos exclusivamente no terreno das afirmativas verbais. Ninguém, todavia, atenderá ao dever apenas com palavras. Ensina a Bíblia que o próprio Senhor da Vida não estacionou no Verbo e continuou o trabalho criativo na Ação.

Todos sabemos que o pensamento é força essencial, mas não admitimos nossa milenária viciação no desvio dessa força.

Ora, é coisa sabida que um homem é obrigado a alimentar os próprios filhos; nas mesmas condições, cada espírito é compelido a manter e nutrir as criações que lhe são peculiares.

Uma idéia criminosa produzirá gerações mentais da mesma natureza; um princípio elevado obedecerá à mesma lei.

Recorramos a símbolo mais simples. Após elevar-se às alturas, a água volta purificada, veiculando vigorosos fluidos vitais, no orvalho protetor ou na chuva benéfica; conservemo-la com os detritos da terra e fá-la-emos habitação de micróbios destruidores.

O pensamento é força viva, em toda a parte; é atmosfera criadora que envolve o Pai e os filhos, a Causa e os Efeitos, no Lar Universal.

Nele, transformam-se homens em anjos, a caminho do céu ou se fazem gênios diabólicos, a caminho do inferno.

Apreendem vocês a importância disso? Certo, nas mentes evolvidas, entre os desencarnados e encarnados, basta o intercâmbio mental sem necessidade das formas, e é justo destacar que o pensamento em si é a base de todas as mensagens silenciosas da idéia, nos maravilhosos planos da intuição, entre os seres de toda espécie.

Dentro desse princípio, o espírito que haja vivido exclusivamente em França poderá comunicar-se no Brasil, pensamento a pensamento, prescindindo de forma verbalista especial, que, nesse caso, será sempre a do receptor; mas isso também exige afinidade pura.

Não estamos, porém, nas esferas de absoluta pureza mental, onde todas as criaturas têm afinidades entre si. Afinamo-nos uns com os outros, em núcleos insulados, e somos compelidos a prosseguir nas construções transitórias da Terra, a fim de regressar aos círculos planetários com maior bagagem evolutiva.

Nosso Lar, portanto, como cidade espiritual de transição, é uma bênção a nós concedida por “acréscimo de misericórdia”, para que alguns poucos se preparem à ascensão, e para que a maioria volte à Terra em serviços redentores. Compreendamos a grandiosidade das leis do pensamento e submetamo-nos a elas, desde hoje."

Depois de longa pausa, a Ministra sorriu para o auditório e perguntou:

- Quem deseja aproveitar?

Logo após, suave música encheu o recinto de cariciosas melodias.

Veneranda conversou ainda por muito tempo, revelando amor e compreensão, delicadeza e sabedoria.

Sem qualquer solenidade nos gestos para evidenciar o término da conversação, findou a palestra com uma pergunta graciosa.

*******

Palestra proferida pela Ministra Veneranda, do Ministério do Auxílio, da Colônia Espiritual “Nosso Lar”.

Fonte: Livro “Nosso Lar” Capítulo 37 – páginas de 200 a 205

Francisco Cândido Xavier/André Luiz – FEB (Todos os direitos reservados a FEB)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Desejo (Victor Hugo)




"Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconseqüentes
Sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar

E porque a vida é assim
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que
Algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo

Desejo depois, que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho
Não se dedique ao desespero
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor

Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.

Desejo que você descubra
Com o máximo de urgência
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E que estão bem à sua volta
Desejo ainda
Que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, você se sentirá bem por nada

Desejo também
Que você plante uma semente, por menor que seja
E acompanhe o seu crescimento
Para que você saiba
De quantas muitas vidas é feita uma árvore

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente e diga:
"Isso é meu"
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem

Desejo também
Que nenhum de seus afetos morra
Por eles e por você
Mas que se morrer
Você possa chorar sem se lamentar
E sofrer sem se culpar

Desejo por fim
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher
E que sendo mulher, tenha um bom homem
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar

E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar"

Victor Hugo

Nada te Perturbe (Santa Tereza D'Avila)



"Nada te perturbe,
Nada te espante,
Tudo passa,
Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem,
Nada lhe falta:
Só Deus basta.

Eleva o pensamento,
Ao céu sobe,
Por nada te angusties,
Nada te perturbe.
A Jesus Cristo segue,
Com grande entrega,
E, venha o que vier,
Nada te espante.
Vês a glória do mundo?
É glória vã;
Nada tem de estável,
Tudo passa.

Deseje às coisas celestes,
Que sempre duram;
Fiel e rico em promessas,
Deus não muda.
Ama-o como merece,
Bondade Imensa;
Quem a Deus tem,
Mesmo que passe por momentos difíceis;
Sendo Deus o seu tesouro,
Nada lhe falta.
Só Deus basta!"

Santa Tereza D'Avila

A amizade entre um Cão e um Golfinho






terça-feira, 10 de maio de 2011

O Crítico - Primeiro Diálogo (Livro: "O que é o espiritismo" Allan Kardec - Cap I)



CAPÍTULO I
Pequena conferência espírita


PRIMEIRO DIÁLOGO

O CRÍTICO

Visitante. - Confesso-vos, caro senhor, que a minha razão recusa admitir a realidade dos fenômenos estranhos atribuídos aos Espíritos, persuadido que estou de estes não terem senão uma existência imaginária. Entretanto, eu me curvaria diante da evidência, se disso tivesse provas incontestáveis; por isso desejo merecer-vos a permissão de assistir somente a uma ou duas experiências, para não ser indiscreto, a fim de convencer-me, caso seja possível.

Allan Kardec. - Desde que a vossa razão repele o que nós consideramos irrecusável, vós a credes superior às de todos quantos não compartilham de vossas opiniões.

Longe de mim o pensamento de duvidar do vosso talento e a pretensão de supor minha inteligência superior à vossa; admiti, pois, que eu esteja iludido, é a vossa razão quem vo-lo diz: e não falemos mais nisso.

V. - Entretanto, se conseguísseis convencer-me, conhecido que sou como antagonista das vossas idéias, isto seria um milagre eminentemente favorável à causa que defendeis.

A. K. - Lamento-o, caro senhor, porém não tenho o dom de fazer milagres. Julgais que uma ou duas sessões bastariam para adquirirdes convicção?

Seria, realmente, um verdadeiro prodígio; eu precisei mais de um ano de trabalho para ficar convencido; o que prova que não cheguei a esse estado inconsideradamente.

Além disso, não realizo sessões públicas e parece-me que vos enganastes sobre o fim das nossas reuniões, visto não fazermos experiências com o fito de satisfazer à curiosidade de ninguém.

V. - Não procurais, pois, fazer prosélitos?

A. K. - Para que buscarmos fazer-vos prosélito, quando não o quereis ser?

Não pretendo forçar convicção alguma. Quando encontro pessoas que sinceramente desejam instruir-se e dão-me a honra de pedir-me esclarecimentos, folgo e cumpro um dever respondendo-lhes nos limites dos meus conhecimentos; quanto aos antagonistas, porém, que, como vós, têm convicções arraigadas, não tento um passo para delas arredá-los, atento a que é grande o número dos que se mostram bem dispostos, para que possamos perder o nosso tempo com aqueles que o não estão.

Estou certo de que, diante dos fatos, a convicção há de vir, mais tarde ou mais cedo, e que os incrédulos hão de ser arrastados pela torrente; por ora, alguns partidários, de mais ou de menos, nada alteram na pesagem; pelo que nunca me vereis incomodado para atrair, às nossas idéias, aqueles que, como vós, sabem as razões que têm para fugir delas.

V. - Há mais interesse em convencer-me do que o supondes. Permitis que me explique com franqueza e prometeis-me não ver ofensa alguma nas minhas palavras? São as minhas idéias sobre a coisa em si e não sobre a pessoa a quem me dirijo; posso respeitar a pessoa, sem participar de suas opiniões.

A. K. - O Espiritismo me tem ensinado a desprezar essas mesquinhas suscetibilidades do amor-próprio, e a me não ofender com palavras. Se as vossas expressões saírem dos limites da urbanidade e das conveniências, apenas concluirei que sois um homem mal-educado, mas não irei além. Quanto a mim, antes quero que os outros fiquem com os defeitos, do que compartilhar deles.

Vedes, só por isso, que o Espiritismo já serve para alguma coisa.

Já vos disse, senhor, não tenho a pretensão de vos fazer adotar a minha opinião; respeito a vossa, se é sincera, como desejo que respeiteis a minha.

Acreditando ser o Espiritismo um sonho sem sentido, dissestes, sem dúvida, vindo a minha casa: Vou ver um louco. Confessai-o francamente, pois com isso não me escandalizarei.

Todos os espíritas são loucos, é coisa sabida. Pois bem! se julgais assim, eu tenho escrúpulo de transmitir-vos a minha enfermidade mental; e causa-me espanto ver-vos, com tal pensamento, buscar uma convicção que vos vai colocar no número dos loucos. Se já estais persuadido de que não conseguiremos convencer-vos, o passo que destes é inútil, visto que só terá por fim a curiosidade. Abreviemos, pois, por favor, porque me falta tempo para perder em conversações sem objeto.

V. - O homem pode enganar-se, deixar-se iludir, sem que, por isso, seja louco.

A. K. -Dizei logo: acreditais, como muitos, que isto é moda que durará certo tempo; mas deveis convir que um passatempo que, em alguns anos, tem conquistado milhões de partidários, em todos os países, que conta entre seus adeptos sábios de toda ordem, que se propaga de preferência nas classes mais esclarecidas, é mania singular, que merece examinada.

V. - Tenho minhas idéias a respeito, é certo, porém elas não se acham tão absolutamente firmadas, que não consinta em sacrificá-las à evidência.

Disse-vos que teríeis certo interesse em me convencer. Confesso-vos que tenciono publicar um livro em que

me proponho demonstrar ex professo (sic) a minha opinião sobre o que considero um erro; e como esse livro deve produzir efeito, dando um golpe no Espiritismo, eu deixaria de publicá-lo, caso ficasse convencido da realidade da vossa doutrina.

A. K. - Eu sentiria que ficásseis privado do que vos pode proporcionar um livro que deve produzir tanto efeito; além disso, não tenho interesse algum em impedir a sua publicação: ao contrário, desejo-lhe grande circulação, porque assim ele nos servirá de prospecto e anúncio. A nossa atenção é sempre chamada sobre aquilo que vemos atacado; há muita gente que quer ver os prós e os contras, e a crítica faz aparecer a verdade, mesmo aos olhos daqueles que não a procuravam aí; é assim que muitas vezes, sem querer, se faz reclamo do que se quer combater.

A questão dos Espíritos é, por outro lado, tão palpitante de interesse, choca a tal ponto a curiosidade, que basta assinalá-la à atenção, para que nasça o desejo de aprofundá-la.

V. - Então, no vosso entender, a crítica para nada serve, a opinião pública nada vale?

A. K. - Não considero a crítica como expressão da opinião pública, mas como juízo individual, que bem pode enganar-se.

Lede a história e vereis quantos trabalhos importantes foram, ao aparecer, criticados, sem que isso os excluísse do número das grandes obras; quando, porém, uma coisa é má, não há elogio que a torne boa.

Se o Espiritismo é uma falsidade, ele cairá por si mesmo; se, porém, é uma verdade, não há diatribe que possa fazer dele uma mentira.

Ao nosso modo de ver, vosso livro não será mais que uma apreciação pessoal; a verdadeira opinião pública decidirá da justeza dos vossos conceitos.

Procurarão examinar. Se mais tarde reconhecerem que vos enganastes, vosso livro se tornará ridículo, como os que, não há muito, foram publicados contra as teorias da circulação do sangue, da vacina, etc., etc.

Esquecia-me, porém, que íeis tratar a questão ex professo, o que equivale a dizer que a estudastes sob todas as suas faces; que vistes tudo o que se pode ver, lestes tudo o que sobre a matéria se tem escrito, analisastes e comparastes as diversas opiniões; que vos achastes nas melhores condições de observação pessoal; que durante anos lhe consagrastes vigílias; em suma: que nada desprezastes para chegar à verdade. Devo crer que tal se deu, se sois um homem sério, porque somente aquele que fez tudo isso pode dizer que fala com conhecimento de causa.

Que juízo formaríeis de um homem que, sem conhecimento de literatura, sem ter estudado a pintura, se erigisse em censor de uma obra literária ou de um quadro?

E de lógica elementar que o crítico conheça, não superficialmente, mas, a fundo, aquilo de que fala, sem o que, sua opinião não tem valor.

Para combater um cálculo é necessário opor-se-lhe outro cálculo, o que exige saber calcular. O crítico não se deve limitar a dizer que tal coisa é boa ou má; é preciso que justifique a opinião por uma demonstração clara e categórica, baseada sobre os princípios da arte ou ciência a que pertence o objeto da crítica. Como poderá fazê-lo, quando não conhecer esses princípios?

Não tendo idéia da mecânica, podereis apreciar as qualidades, ou os defeitos de determinada máquina? Não. Pois bem: o vosso juízo acerca do Espiritismo, que aliás não conheceis, não pode ter mais valor que o que, nas condições acima, emitísseis sobre a aludida máquina. A cada passo sereis apanhado em flagrante delito de ignorância, porque aqueles que têm estudado a matéria verão logo que a desconheceis; donde concluirão que não sois um homem sério ou que agis de má-fé; expondo-vos, portanto, a receber, quer num, quer noutro caso, desmentido pouco lisonjeiro ao vosso amor-próprio.

V. - É precisamente para evitar esse perigo que vim pedir-vos permissão para assistir a algumas experiências.

A. K. - E julgais que isto vos baste para poder, ex professo, falar de Espiritismo?

Como podereis compreender essas experiências e, ainda mais, julgá-las, quando não estudastes os princípios em que elas se baseiam?

Como apreciaríeis o resultado, satisfatório ou não, de ensaios metalúrgicos, por exemplo, não conhecendo a fundo a metalurgia?

Permiti-me dizer-vos, senhor, que vosso projeto é absolutamente a mesma coisa que, não tendo estudado a Matemática, nem a Astronomia, vos apresentásseis a um dos membros do Observatório, dizendo-lhe:

"Senhor, quero escrever um livro sobre Astronomia e provar que o vosso sistema é falso; mas, como desconheço os menores rudimentos dessa ciência, deixai que, por uma ou duas vezes, me sirva de vossa luneta; o que será suficiente para ficar sabendo tanto quanto vós."

É somente por extensão que a palavra criticar se tornou sinônima de censurar; em sua acepção própria e segundo a etimologia, ela significa julgar, apreciar. A crítica pode, pois, ser aprobativa ou desaprobativa.

Fazer a crítica de um livro não é necessariamente condená-lo; quem empreende essa tarefa, deve fazê-lo sem idéias preconcebidas; porém, se antes de abrir o livro, já o condena em pensamento, o exame não pode ser imparcial.

Tal o caso da maioria dos que têm falado contra o Espiritismo. Apenas sobre o nome formaram uma opinião, fazendo qual juiz que proferisse uma sentença, sem antes examinar as peças do processo.

A conseqüência foi que seu julgamento feriu em falso, e que, em vez de persuadir, ocasionaram riso.

A maior parte dos que seriamente têm estudado a questão, mudou de idéia, e mais de um adversário se tem tornado adepto do Espiritismo, quando reconhece que o seu objetivo é muito diverso daquele que supunha.

V. - Falais do exame dos livros em geral; acreditais que seja materialmente possível a um jornalista ler e estudar todos os que lhe passam pelas mãos, sobretudo quando se ocupam com teorias novas, que lhe seria preciso aprofundar e verificar?

Seria o mesmo que exigir de um impressor que ele lesse todas as obras saídas de sua prensa.

A. K. - A tão judicioso raciocínio não tenho outra resposta a dar senão que, quando nos falta o tempo para fazer conscienciosamente uma coisa, é melhor não fazê-la; é preferível produzir um só trabalho bom a fazer dez maus.

V. - Não acrediteis que minha opinião se tenha formado levianamente. Vi mesas girarem e produzirem sons como de pancadas; vi pessoas escreverem o que segundo diziam, lhes ditavam os Espíritos; estou, porém, convencido de que nisso há charlatanismo.

A. K. - Quanto vos cobraram para mostrar-vos essas coisas?

V. - Nada, por certo.

A. K. - Ora, aí tendes charlatães de uma espécie singular, que vão reabilitar o nome da sua classe. Até ao presente não se tinha ainda visto charlatães desinteressados. Suponhamos que um gaiato de mau gosto tenha querido uma vez divertir-se assim; será crível que as outras pessoas presentes pactuassem com ele? Demais, com que fim se fariam elas cúmplices de uma mistificação? Direis que com o fim de recrear a sociedade... Concordo em que uma vez se prestassem a tal brinquedo; porém, quando esse brinquedo dura meses e anos, julgo que o mistificado é o próprio mistificador. Não é provável que, só pelo gosto de fazer que creiam em uma coisa que ele sabe ser falsa, alguém vá passar horas inteiras, imóvel, agarrado a uma mesa. O gosto não equivaleria à pena.

Antes de julgar isso uma fraude, é preciso indagar que interesse havia em enganar; ora, não deixareis de convir que há pessoas que se não coadunam com a mais leve suspeita de embuste; pessoas cujo caráter já é uma garantia de probidade.

Coisa muito diversa seria se se tratasse de uma especulação, porque a tentação do ganho é má conselheira; mas, admitindo mesmo que, neste último caso, ficasse bem comprovado um manejo fraudulento, isso em nada ofenderia a realidade do princípio, porque de tudo se pode abusar.

Por vender-se vinho falsificado, não se deve concluir que não existe vinho puro.

O Espiritismo não é mais responsável pelos atos daqueles que abusam desse nome e o exploram, do que o é a ciência médica pelos atos dos charlatães que impingem suas drogas, ou a religião pelos dos sacerdotes que iludem seu ministério.

Por sua novidade e mesmo por sua natureza, o Espiritismo se presta a abusos; ele, porém, fornece os meios para que os reconheçam, definindo claramente seu verdadeiro caráter e afastando de si toda a solidariedade com aqueles que o viriam a explorar ou desviar do seu fim exclusivamente moral, para transformá-lo em meio de vida, em instrumento de adivinhação ou de investigações fúteis. Desde que o Espiritismo mesmo traça os limites em que se encerra, define o que pode ou não dizer ou fazer, o que está ou não em suas atribuições, o que aceita e o que repudia, toda a falta recai sobre aqueles que, não se dando ao trabalho de estudá-lo, o julgam pelas aparências e que, por terem encontrado saltimbancos adornando-se sob o nome de espíritas, para chamar concorrência, dizem com gravidade: eis o que é o Espiritismo.

Sobre quem, em definitiva, cairá o ridículo? Será sobre o saltimbanco que usa do seu ofício? Será sobre o Espiritismo, cuja doutrina escrita desmente tais asserções? ou, antes, sobre os críticos que falam do que não sabem ou de, cientemente, alterarem a verdade?

Aqueles que atribuem ao Espiritismo o que é contrário à sua mesma ciência, fazem-no por ignorância ou má intenção; no primeiro caso há leviandade, no segundo, má-fé. E, neste último caso, eles se colocam na posição do historiador que, no interesse de sustentar um partido ou uma opinião, alterasse os fatos históricos. Quando usa desses meios, o partido fica desacreditado e não consegue o seu fim.

Notai bem, cavalheiro, que eu não pretendo que a crítica deve necessariamente aprovar nossas idéias, mesmo depois de as haver estudado; não nos revoltamos de forma alguma contra os que não pensam como nós.

O que é evidente, para nós, pode não ser para vós outros; cada qual julga as coisas debaixo de certo ponto de vista, e do fato mais positivo nem todos tiram as mesmas conseqüências.

Se um pintor, por exemplo, pinta em seu quadro um cavalo branco, não faltará quem diga que essa cor faz aí mau efeito, que a cor negra conviria mais, e nisto não se comete erro; cometer-se-á, porém, se, vendo que o cavalo é branco, afirmar que é negro; é o que faz a maioria dos nossos adversários.

Em resumo, senhor, todos têm completa liberdade de aprovar ou censurar os princípios do Espiritismo, de deduzir deles as conseqüências boas ou más que lhes aprouver, porém a consciência impõe ao crítico a obrigação de não dizer o contrário do que ele sabe que é; ora, para isso, a primeira condição é não falar do que não conhece.

V. - Voltemos, por favor, às mesas que se movem e falam; não será possível que elas sejam preparadas com algum artifício?

A. K. - É sempre a mesma questão de boa-fé, a que já respondi.

Quando a fraude for provada, eu vo-la reconhecerei; se descobrirdes fatos demonstrados de embuste, charlatanismo, especulação ou abuso de confiança, fustigai-os e eu desde já vos declaro que não irei defendê-los, porque o Espiritismo sério é o primeiro a repudiá-los; e quem assinalar tais abusos o auxilia no trabalho de preveni-los e lhe presta importante serviço. Porém, generalizar essas acusações, lançar sobre elevado número de pessoas honradas a reprovação que só cabe a alguns indivíduos isolados, é um abuso de outro gênero, porque é uma calúnia.

Admitindo, como dissestes, que as mesas estivessem preparadas, era preciso que o mecanismo empregado fosse bem engenhoso para fazê-las produzir movimentos e sons tão variados. Ora, como não é ainda conhecido o nome do hábil artista que os fabrica? Entretanto, ele deveria gozar de grande celebridade, visto que seus aparelhos estão espalhados pelas cinco partes do mundo.

Devemos também convir que o seu processo é assaz delicado e sutil, para poder adaptar-se à primeira mesa que se apresenta, sem deixar sinal algum exterior que o denuncie.

Como é que, desde Tertuliano, que já tratava das mesas giratórias e falantes, até o presente ninguém conseguiu ver e descrever tal mecanismo?

V. - Eis o que vos ilude. Um célebre cirurgião reconheceu que certas pessoas podem, pela contração de um músculo da perna, produzir um ruído semelhante ao que atribuís à mesa; donde concluiu que os médiuns se divertem à custa da credulidade dos assistentes.

A. K. - Se é um estalido do músculo, não é então a mesa que está preparada. Uma vez que cada qual explica a seu modo essa pretendida fraude, fica reconhecido que a verdadeira causa não é sabida.

Respeito a ciência desse sábio cirurgião, e somente acho que se apresentam algumas dificuldades na aplicação, às mesas falantes, da teoria indicada.

A primeira é que é singular que essa faculdade, até o presente excepcional e olhada como um caso patológico, se tenha tornado comum; a segunda, que é preciso ter-se robustíssima vontade de mistificar, para fazer estalar o músculo durante duas ou três horas consecutivas, quando disso não resulte a quem assim procede senão fadiga e dor; a terceira, que eu não compreendo bem como pode esse músculo responder às portas e paredes em que as pancadas se fazem ouvir; a quarta, finalmente, que é necessário dar-se a esse músculo estalador uma propriedade bem maravilhosa, para que ele possa mover uma pesada mesa, levantá-la, abri-la, fechá-la, conservá-la suspensa sem ponto de apoio, e, finalmente, fazê-la despedaçar-se ao cair.

Ninguém, por certo, desconfiava que esse músculo possuísse tanta virtude (Revue Spirite, junho de 1859, pág.
141: Le muscle craqueur). O célebre cirurgião, de que falais, teria estudado o fenômeno da tiptologia sobre os indivíduos que os produzem? Não; ele observou um efeito fisiológico anormal em alguns indivíduos que nunca se ocuparam de mesas batedoras; e, notando certa analogia entre esse efeito e o que essas mesas produzem, sem mais amplo exame concluiu, com toda a autoridade de sua ciência, que todos os que concorrem, para que as mesas falem, devem ter a propriedade de fazer estalar o músculo curto-perônio, e não são mais que embusteiros, sejam eles príncipes ou artífices, recebam ou não um pagamento. Estudou ele, ao menos, o fenômeno da tiptologia em todas as suas fases? Verificou, por meio desse estalido muscular, se podia produzir todos os efeitos tiptológicos? Não; porque, do contrário, ele ficaria convencido da insuficiência do seu processo; apesar disso, julgou-se no caso de proclamar a sua descoberta, em pleno Instituto.

Não será esse juízo assaz comprometedor para um sábio? Quem pensa hoje nessa opinião?

Confesso-vos que, se me tivesse de sujeitar a uma operação cirúrgica, hesitaria muito em confiar-me a esse médico, porque recearia que ele não julgasse o meu mal com mais perspicácia.

Já que esse juízo é uma das autoridades em que pareceis querer apoiar-vos para esmagar o Espiritismo, fico completamente inteirado da força dos outros argumentos que quereis validar, a menos que os não vades beber em fontes mais autênticas.

V. - Entretanto, bem vedes que já passou a moda das mesas girantes que durante certo tempo fizeram furor; hoje já ninguém se ocupa com elas. Por que se dá isso, quando é uma coisa séria?

A. K. - Porque das mesas girantes saiu uma coisa ainda mais séria: uma ciência completa, uma perfeita doutrina filosófica, do máximo interesse para os homens que refletem. Quando estes nada mais tiveram a aprender no giro das mesas, não mais com elas se ocuparam. Para as pessoas fúteis, que nada querem aprofundar, esse fenômeno era um passatempo, um divertimento que abandonaram quando dele se aborreceram; são pessoas com as quais a ciência não conta.

O período de curiosidade teve seu tempo; sucedeu-lhe o da observação. O Espiritismo entrou, então, no domínio da gente séria, que não o toma como objeto de divertimento, mas, sim, como meio de instruir-se.

Porém, essas pessoas que o consideram como coisa grave, não se prestam a qualquer experiência de curiosidade, e ainda menos a satisfazer a daqueles que se apresentam com pensamentos hostis; como não brincam, não se prestam a servir de brinquedo para os outros; eu pertenço a esse número.

V. - No entanto, somente a experiência pode convencer, mesmo aquele que, em começo, seja movido pela curiosidade.

Se só trabalhais na presença de pessoas convictas, deixai que vos diga, ensinais a quem já sabe.

A. K. - Uma coisa é estar convencido e outra estar disposto a convencer-se; é aos desta última classe que me dirijo, e não aos que julgam humilhação vir escutar o que eles chamam ilusões. Com estes eu não me ocupo, absolutamente.

Quanto aos que manifestam sincero desejo de esclarecer-se, o melhor modo que têm, para prová-lo, é mostrar perseverança; são reconhecidos por outros sinais que não apenas o desejo de ver uma ou duas experiências: esses querem trabalhar seriamente.

A convicção só se adquire com o tempo, por meio de uma série de observações feitas com cuidado todo particular.

Os fenômenos espíritas diferem essencialmente dos das ciências exatas: não se produzem à vontade; é preciso que os colhamos de passagem; é observando muito e por muito tempo que se descobre uma porção de provas que escapam à primeira vista, sobretudo, quando não se está familiarizado com as condições em que se pode encontrá-las, e ainda mais quando se vem com o espírito prevenido.

As provas abundam para o observador assíduo e refletido: uma palavra, um fato aparentemente insignificante, é para ele um raio de luz, uma confirmação; ao passo que tais fatos não têm sentido para quem os observa superficialmente ou por simples curiosidade; eis por que não me presto a fazer experiências sem resultado provável. V. - Enfim, tudo deve ter começo. O aprendiz, que nada sabe, que nada viu ainda, mas que deseja esclarecer-se, como poderá fazê-lo, quando não lhe facultais os meios para isso?

A. K. - Eu faço grande distinção entre o incrédulo por ignorância e o incrédulo por sistema; quando descubro alguém com disposições favoráveis, nada me custa esclarecê-lo; há, porém, pessoas em quem a vontade de instruir-se não é senão aparente; com estas perde-se o tempo; porque, se elas não encontram logo o que parecem buscar, e que talvez as incomodasse, se aparecesse, o pouco que vêem não é suficiente para lhes destruir as prevenções; julgam mal os resultados obtidos e os transformam em objeto de zombaria, pelo que não há utilidade em lhos fornecer.

A quem deseja instruir-se, direi: "Não se pode fazer um curso de Espiritismo experimental como se faz um de Física ou de Química, atento que nunca se é senhor de produzir os fenômenos espíritas à vontade, e que as inteligências desses agentes fazem, muitas vezes, frustrarem-se todas as nossas previsões. Aqueles que acidentalmente poderíeis ver, não apresentando nexo algum, nem ligação necessária, seriam pouco inteligíveis para vós.

Instruí-vos primeiramente pela teoria, lede e meditai as obras que tratam dessa ciência; nelas aprendereis os princípios, encontrareis a descrição de todos os fenômenos, compreendereis a possibilidade deles pela explicação que elas vos darão, e, pela narrativa de grande número de fatos espontâneos de que pudestes ser testemunha sem os compreender, mas que vos voltarão à memória, vós vos fortificareis contra todas as dificuldades que possam surgir e formareis, desse modo, uma primeira convicção moral.

Então, quando se vos apresentar a ocasião de observar ou operar pessoalmente, compreendereis, qualquer que seja a ordem em que os fatos se mostrem, porque nada vereis de estranho." Eis, meu caro senhor, o que aconselho a todos que dizem querer instruir-se, e, pela resposta que dão, é fácil conhecer se neles há alguma coisa mais que curiosidade!

Fonte: Livro "O que é o espiritismo" Allan Kardec - Cap I - Pequena conferência espírita - PRIMEIRO DIÁLOGO - O CRÍTICO

O Comboio da Vida


Numa viagem de comboio, ao longo do percurso, pode acontecer uma grande diversidade de situações. A nossa existência terrena pode ser comparada a uma dessas viagens, mais ou menos longa. Primeiro, porque é cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis em alguns embarques, e grandes tristezas em algumas partidas.

Quando nascemos, entramos no comboio e deparamos com pessoas que desejamos que sigam sempre conosco: os nossos pais. Infelizmente, isso não vai acontecer: em alguma estação eles descerão e deixar-nos-ão órfãos dos seus carinhos, amizade e companhia insubstituíveis.

Mas durante a viagem, outras pessoas especiais embarcarão e seguirão viagem conosco: os nossos irmãos, amigos, amores e filhos. A viagem não é igual para todos. Alguns fazem dela um passeio, outros só vêem nela tristezas, e outros ainda circulam pelo comboio, prontos para ajudar quem precise. Muitos descem e deixam saudades eternas... Outros passam de uma forma que, quando desocupam o seu assento, ninguém se apercebe.

Curioso é constatar que alguns passageiros que nos são caros se acomodam em carruagens distantes da nossa, o que não impede, é claro, que durante o percurso nos aproximemos deles e os abracemos, embora jamais possamos seguir juntos, porque haverá alguém ao seu lado ocupando aquele lugar. Mas isso não importa, pois a viagem é cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, despedidas. O importante, mesmo, é que façamos a nossa viagem da melhor maneira possível, tentando relacionar-nos bem com os demais passageiros, vendo em cada um deles o que tem de melhor. Devemos lembrar-nos sempre que, em algum momento do trajeto, eles poderão fraquejar e precisamos entendê-los, pois nós também fraquejaremos muitas vezes e gostamos que haja alguém que nos entenda. A grande diferença, afinal, é que no comboio da vida, nunca sabemos em que estação teremos que descer, e muito menos em que estação descerão os nossos amores, nem mesmo aquele que está sentado ao nosso lado. Porque não é fácil separar-nos dos amigos, nem deixar que os filhos sigam viagem sozinhos. No entanto, em algum lugar, há uma estação principal para onde todos seguimos. Lá nos reencontramos todos.

E quando chegar essa hora, teremos grandes emoções em poder abraçar os nossos amores e matar a saudade que nos fez companhia por longo tempo... Que a nossa breve viagem seja uma grande oportunidade de aprender e ensinar, entender e atender aqueles que viajam ao nosso lado, porque não foi o acaso que os colocou ali... Que aprendamos a amar e a servir, compreender e perdoar, pois não sabemos quanto tempo ainda nos resta até à estação onde teremos que deixar o comboio. Se a sua viagem não está a correr exatamente como esperava, dê-lhe uma nova direção. Observe a paisagem maravilhosa com que DEUS enfeitou todo o trajeto... Busque uma maneira de dar utilidade às suas horas. Preocupe-se com aqueles que seguem viagem ao seu lado. Deixe de lado as queixas e faça com que o seu percurso fique marcado com rastos de luz. Pense nisso... E boa viagem!

(Autor Desconhecido)