sexta-feira, 20 de junho de 2008

Morre lentamente... (Pablo Neruda)


Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto ao branco e os pingos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, aquelas que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho que o tem mantido acordado.

Quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Morre lentamente aquele que não compartilha suas emoções, alegrias e tristezas, quem não confia, quem nem mesmo tenta.

Morre lentamente aquele que não revive suas lembranças e continua a se emocionar como se as estivesse vivendo naquele momento.

Morre lentamente aquele que não tenta se superar,Que não aprende pelas pedras no caminho da vida,

Quem não ama e ou não deixa alguém amar.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.


Pablo Neruda

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