sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Encontrei seu cão...




Hoje encontrei seu cão.
Não, ele não foi adotado por ninguém.
Aqui por perto, a maioria das pessoas já
têm vários cães; aqueles que não têm
nenhum, não querem um cão.

Eu sei que você esperava que ele encontrasse um bom lar
quando o deixou aqui, mas ele não encontrou.
Quando o vi pela primeira vez, ele estava bem longe
da casa mais próxima e estava sozinho, com sede, magro
e mancava por causa de um machucado na pata.

Eu queria tanto ser você naquele momento em que parei
na frente dele. Para ver sua cauda abanando e seus olhos
brilhando ao pular nos seus braços, pois ele sabia que você
o encontraria, sabia que você não esqueceria dele.
Para ver o perdão em seus olhos pelo sofrimento e pela dor
por que ele havia passado em sua jornada sem fim à sua
procura... Mas eu não era você. E, apesar das minhas
tentativas de convencê-lo a se aproximar, seus olhos viam
um estranho. Ele não confiava em mim.
Ele não se aproximava.

Ele virou as costas e seguiu seu caminho, pois tinha certeza
de que esse caminho o levaria a você. Ele não entende que
você não está procurando por ele. Ele só sabe que você não
está lá, sabe apenas que precisa te encontrar.
Isso é mais importante do que comida, água ou o estranho
que pode lhe dar essas coisas.

Percebi que seria inútil tentar persuadi-lo ou segui-lo.
Eu nem sei seu nome. Fui para casa, enchi um balde d'água
e uma vasilha de comida e voltei para o lugar onde o havia
encontrado. Não havia nem sinal dele, mas deixei a água e a
comida debaixo da árvore onde ele havia buscado abrigo do sol
e um pouco de descanso. Veja bem, ele não é um cão selvagem.
Ao domesticá-lo, você tirou dele o instinto de sobrevivência
nas ruas. Ele só sabe que precisa caminhar o dia todo.
Ele não sabe que o sol e o calor podem custar-lhe a vida.
Ele só sabe que precisa encontrá-lo.

Aguardei na esperança de que voltasse para buscar abrigo
sob a árvore, na esperança de que a água e a comida que havia
trazido fizessem com que confiasse em mim e eu pudesse levá-lo
para casa, cuidar do machucado da pata, dar-lhe um canto fresco
para se deitar e ajudá-lo a entender que agora você não faria mais
parte de sua vida.

Ele não voltou aquela manhã e, quando a noite caiu,
a água e a comida permaneciam intocadas. Fiquei preocupada.
Você deve saber que poucas pessoas tentariam ajudar seu cão.
Algumas o enxotariam, outras chamariam a carrocinha, que lhe
daria o destino do qual você achou que o estava salvando -
depois de dias de sofrimento sem água ou comida.

Voltei ao local antes do anoitecer. Não o encontrei.
Na manhã seguinte, voltei e vi que a água e a comida
permaneciam intactas. Ah, se você estivesse aqui para
chamar seu nome!

Sua voz é tão familiar para ele. Comecei a ir na direção que ele
havia tomado ontem, sem muita esperança de encontrá-lo.
Ele estava tão desesperado para te encontrar, que seria capaz
de caminhar muitos quilômetros em 24 horas.

Algumas horas mais tarde, a uma boa distância do local onde
eu o havia visto pela primeira vez, finalmente encontrei seu cão.

A sede não o atormentava mais.
Sua fome havia desaparecido e suas dores haviam passado.
O machucado da pata não o incomodava mais.
Agora seu cão está livre de todo esse sofrimento.

Seu cão morreu.

Ajoelhei-me ao lado dele e amaldiçoei você por não
estar aqui ontem para que eu pudesse ver o brilho,
por um instante sequer, naqueles olhos vazios.
Rezei, pedindo que sua jornada o tenha levado àquele
lugar que acho que você esperava que ele encontrasse.

Se você soubesse por quanta coisa ele passou para chegar lá...
E eu sofro, pois sei que, se ele acordasse agora, e se eu fosse você,
seus olhos brilhariam ao reconhecê-lo, ele abanaria sua cauda,
perdoando-o por tê-lo abandonado.

Autor Desconhecido

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